O arquiteto Norman Foster divulgou nesta quarta-feira (6) um comunicado oficial sobre a morte de Oscar Niemeyer, ocorrida ontem (5). Para o britânico, Niemeyer deixa conosco uma fonte de prazer e inspiração para muitas gerações. "Poucas pessoas tiveram a chance de conhecer seus heróis e eu sou grato por ter tido a oportunidade de passar um tempo com ele no Rio no ano passado", afirma.
No texto, Foster ainda fala de obras como a Catedral de Brasília e o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, entre outras marcas do arquiteto.
Veja o comunicado, chamado de "Tributo a Oscar Niemeyer", na íntegra:
"Fiquei profundamente triste ao saber da morte de Oscar Niemeyer. Ele foi uma inspiração para mim - e para uma geração de arquitetos. Poucas pessoas tiveram a chance de conhecer seus heróis e eu sou grato por ter tido a oportunidade de passar um tempo com ele no Rio no ano passado.
Para os arquitetos educados no movimento moderno, ele incorporou os conhecimentos adquiridos do movimento tradicional de ponta-cabeça. Invertendo o ditado familiar de que "a forma segue a função", Niemeyer demonstrou que "quando uma forma cria beleza torna-se funcional e, portanto, fundamental na arquitetura".
Diz-se que quando o cosmonauta russo Yuri Gagarin visitou Brasília, ele comparou a experiência a uma aterrissagem em um planeta diferente. Muitas pessoas vendo a cidade de Niemeyer pela primeira vez devem ter sentido o mesmo. É ousada, escultural, colorida e livre - e como nada antes visto. Poucos arquitetos da história recente são capazes de convocar tal vocabulário vibrante e estruturá-lo em uma linguagem tão brilhantemente comunicativa e tectônicamente sedutora.
Não se pode contemplar a Catedral de Brasília, por exemplo, sem se comover tanto pelo seu dinamismo formal como pelo sua economia estrutural, que se combinam e geram uma sensação de leveza tão grande que parece que o fechamento se dissolve totalmente no vidro. Que arquiteto pode resistir a tentar descobrir como as afiladas colunas de concreto em forma de osso do Palácio da Alvorada são capazes de tocar o solo de forma tão leve? Brasília não é simplesmente projetada, é coreografada, cada uma de suas peças fluidamente compostas parecem estar, como uma bailarina, congeladas em um momento de equilíbrio absoluto. Mas o que eu mais gosto em seu trabalho é que mesmo os edifícios sozinhos se tratam principalmente sobre a calçada pública, a dimensão pública.
Como um estudante no início de 1960, eu olhei para o trabalho de Niemeyer como um estímulo, debruçado sobre os desenhos de cada novo projeto. Cinquenta anos mais tarde, seu trabalho ainda tem o poder de nos surpreender. Seu Museu de Arte Contemporânea em Niterói é um exemplo disto. Localizado em um bloco rochoso como uma planta exótica, ele despedaça a convenção justapondo arte com a vista panorâmica do Rio. É como se - em sua mente - ele tivesse quebrado o uso da galeria-caixa convencional abaixo das rochas e nos desafiasse a ver a arte e a natureza com igualdade. Eu andei nas rampas do Museu. Elas são quase como uma dança no espaço, convidando-nos a ver a construção de muitos pontos de vista diferentes antes de realmente entrar no museu. Achei absolutamente mágico.
Durante o nosso encontro no ano passado, ele falou longamente sobre o seu trabalho - e ofereceu algumas lições valiosas para o meu. Parece absurdo descrever um homem de 104 anos como jovem, mas sua energia e criatividade foram uma inspiração. Fui tocado pelo seu calor e sua grande paixão pela a vida e pela descoberta científica - ele queria saber sobre os cosmos e o mundo que vivemos. Em suas palavras: "Estamos a bordo de um navio fantástico!".
Ele me disse que a arquitetura é importante, mas que a vida é mais importante. E ainda que sua arquitetura é o seu legado. E como homem, eternamente jovem - ele deixa conosco uma fonte de prazer e inspiração para muitas gerações.
Norman Foster"